Acompanhamento terapêutico

O acompanhamento terapêutico tem uma íntima e histórica relação com a luta antimanicomial, assumindo papel importante diante o desmonte dos famigerados hospitais psiquiátricos, cuidando dos pacientes que, quando desinstitucionalizados, precisaram se (re)inserir socialmente. Portanto, a marca expressa dessa modalidade de atendimento é o cuidado.

Na medida em que a política de saúde mental foi se consolidando em sua premissa de garantir a permanência desses pacientes na comunidade, então se fortaleceu o atendimento ambulatorial em detrimento à hospitalização; mantendo-se o acompanhamento terapêutico como recurso importante, contudo nem sempre valorizado como deveria, ficando, por vezes, como coadjuvante à outras intervenções, reduzido a condição de mera companhia ao paciente. Nessa perspectiva, os estudos e aprimoramento dessa prática ficou relegado aos poucos profissionais que reconhecem sua relevância, especialmente num momento em que, como refere Safra (2006)[1], “novas formas de subjetivação surgem pela ausência de um lugar ético significativo que possibilite a constituição de si mesmo”. O acompanhamento terapêutico tem uma especificidade particular, distinta de qualquer outra atividade clínica, cabendo ao profissional (AT) pensar e aperfeiçoar, a partir das contribuições de todas as áreas[2], como relatou um acompanhante terapêutico do hospital-dia A CASA no livro organizado pela equipe dessa instituição.

O acompanhamento terapêutico veio ganhando, ao longo do tempo, novas configurações atendendo as demandas que atualmente se apresentam na ordem do sofrimento psíquico daqueles que lutam para existir, em busca da continuidade do ser, do sentido do real – são aqueles que não se estabeleceram como uma unidade integrada no si mesmo. O cotidiano desses pacientes fica afetado pelo desajuste que se apresenta no comportamento e nas relações, carecendo de um manejo que sustente suas necessidades no tempo e no espaço, permitindo experiências constitutivas e que a vida possa ser experimentada; em termos práticos, isso significa ofertar o acompanhamento no ambiente do paciente, considerando suas atividades habituais e suas relações pessoais, organizando e dando um contorno ao dia a dia – ou seja, o valioso dessa intervenção está na experiência.

O ambiente é a terapêutica, o manejo se materializa na organização das tarefas cotidianas, na circulação urbana e na (re)experimentação das situações já vividas, com vistas a buscar sentido e significado.

            Portanto, o objetivo do acompanhamento terapêutico é oferecer um cuidado que se sustenta no holding, atendendo as necessidades do paciente no seu espaço domiciliar ou em ambientes que sejam importantes o desenvolvimento emocional, a partir das suas atividades e rotina diária.

            Oferecer à família o amparo na oferta de cuidados ao paciente.

A aplicação desse cuidado se dá pela presença do acompanhante terapêutico, o qual, se articulando com o psicoterapeuta, se apresenta como uma extensão do manejo ofertado naquele enquadre (do setting terapêutico).

            A frequência, o tempo de atendimento e os prazos devem ser estabelecidos a partir da necessidade e com o paciente, considerando o diagnóstico voltado à idade maturacional.

            Em termos práticos, as intervenções são realizadas no domicílio, escola ou ambientes sociais, numa frequência pré-estabelecida, com datas e horários definidos. Ao longo dos encontros são realizadas tarefas cotidianas, atividades construídas em conjunto e oportunidades de socialização por meio de experiências coletivas, considerando o projeto terapêutico elaborado pelo acompanhante terapêutico, psicoterapeuta, paciente e família.


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