Conquistando o seu lugar : o poder da popularidade

Em meados de outubro de 2016, pouco após o dia das crianças, surgiu nos jornais a notícia de um jovem de 13 anos que se matou devido a uma atividade denominada “chocking game” que desafia os jovens a ficar o máximo de tempo possível sem respirar mediante enforcamentos ou sacos que geram asfixia. Esta atividade é realizada não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos e em outros países, onde já foram relatados também casos de morte. O prêmio que motiva os participantes é único: a popularidade.

A popularidade é o sonho dos adolescentes, e novelas, filmes e séries teens possuem como enredo pessoas desconhecidas que outrora viram populares. E não sabemos se é o ovo ou a galinha: se a mídia incentiva a popularidade ou se o sonho do adolescente em ser popular que incentiva a mídia. O que sabemos é que há nesta fase um grande medo da rejeição, já apontada em diversos estudos.

Gregory S. Berns, psicólogo e pesquisador da Universidade de Emory é autor de alguns estudos a respeito de possíveis preditores de popularidade e suas relações com o processo neural. Em uma série de sua pesquisa sobre as relações entre influencia social, popularidade e decisões musicais, 27 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos foram convidados a escutar trechos de músicas de diferentes gêneros de cantores conhecidos baixadas no aplicativo Myspace. Após escutarem cada trecho, avaliavam o quão eram familiarizados com o refrão e o quanto gostavam daquela musica em uma escala tipo likert de 5 pontos que a posteriori era correlacionada com os dados de ressonância magnética funcional (fMRI). Este procedimento era feito duas vezes, uma sem e outra com informações adicionais sobre o numero de downloads da musica.

Os resultados indicaram diferenças estatisticamente significativas do indicador de downloads na preferência musical dos participantes. Na ausência de informações sobre a popularidade da canção, os adolescentes mudaram sua classificação de preferência em 12% do tempo, ao passo que quando esta informação era adicionada, os índices eram de 22%. Os dados obtidos pela ressonância não foram preditores de gostos musicais. Ou seja, apesar dos canais de recompensa e prazer não serem tão acionados nas musicas populares, os adolescentes as classificavam como agradáveis (Berns & Moore, 2011). Apesar do número pequeno de participantes, este estudo serve para demonstrar a influencia do meio na vida dos adolescentes, e o quanto estão dispostos a muitas vezes a negarem a si mesmos em prol de não serem excluídos.

Há ainda outros estudos que buscam entender correlatos de popularidade com traços de personalidade, relações familiares e status social, contudo, inconclusivos, mas que evidenciam um ponto muito importante: a popularidade não se baseia em quaisquer traços de personalidade, notas ou beleza, mas sim em reflexos que a sociedade implanta. Desse modo, precisamos nos atentar que o desejo do jovem em ser popular pode leva-lo a fazer e viver coisas que não condizem sequer com seus ideais ou personalidade. E este é o preço, comprovado cientificamente por artigos, real e atual que eles estão dispostos a pagar.

Berns, G. S., & Moore, S. E. (2011). A neural predictor of cultural popularity. Disponivel em: http://stanford.edu/~knutson/bad/berns12.pdf. Acesso em: 18 out. 2016.

Saiba mais:
Growing up: the theenage brain [ https://www.youtube.com/watch?v=EnJ-2eWF55w]

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