Na clínica psicológica, assim como em outros espaços de saúde e de interações sociais, não é incomum ouvirmos mulheres contando suas experiências acerca do processo de tornar-se “mãe”, processo esse que se inicia muitas vezes já nas brincadeiras infantis com bonecas e vão aos poucos se configurando como desejo que posteriormente se torna uma realidade através de diferentes formas, biológicas ou não. Também não é incomum ouvirmos relatos não tão românticos sobre o tema, relatos de experiências que envolveram e ainda envolvem sentimentos ambíguos, e por vezes aversivos.
Seja qual a for a experiência vivenciada por essas mulheres, o fato é que há a um impacto na vida psíquica de cada uma delas, e esse impacto é de grande relevância quando paramos para compreender os desdobramentos na relação mãe-bebê, mãe-mundo e mãe e seu mundo interno.
Em especial em todo processo de gravidez e no estado puerpério, mudanças endócrinas, fisiológicas, anatômica e psicológicas ocorrerão, havendo a necessidade de adaptações psíquicas e “objetivas” necessárias para que todas essas mudanças ocorram de forma saudável, sem o desenvolvimento por vezes de quadros emocionais que necessitem de cuidado especializado, psicológicos e/ou psiquiátricos e que afetarão diretamente o desenvolvimento infantil, as relações familiares, sociais e especialmente na autoimagem e autoestima da parturiente.
Poder perceber e expressar os sentimentos que envolvem esses acontecimentos é de fundamental importância para que tenhamos a possibilidade de intervir preventivamente antes que se instaure um processo de sofrimento psíquico. Infelizmente em nossa sociedade ainda é muito marcante o “mito do amor materno”, o que por vezes inibe que as mães possam falar livremente e assumir para si e para o outro, sem “culpa”, de que ser mãe não é apenas algo sublime, mas que implica em por vezes ser tomada por sentimentos “não tão nobres” como esperado e incutido pela nossa cultura.
Para tanto vale a pena esclarecer que o surgimento de alguns sinais e sintomas de perturbações emocionais são esperados, podendo atingir níveis e complexidades já descritos nos manuais de Saúde Mental e podem estar associados a multifatores, sejam físicos/biológicos, psicológicos, familiares, socioeconômicos, sociais e culturais.
Os estudos não são unanimes em determinar prevalência em transtornos específicos, mas vale citarmos aqui alguns desses quadros que podem ser classificados em de leve, média alta gravidade, que exigem cuidados tais como: depressão, ansiedade, síndrome de pânico, transtorno de adaptação ao estresse, transtorno bipolar ou mesmo comorbidades com alterações do pensamento como falta de confiança em si, hiperemotividade, sentimentos de incapacidade, sentimentos de incapacidade, desvalia, culpa, pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida, sentimentos de rejeição ao bebê, redução da autoestima, pessimismo, choro fácil podendo chegar no pós-parto a quadros alucinatório delirante, delírios que envolvem seus filhos, estado confusional e comportamento desorganizado.
Importante destacar que tais quadros podem trazer riscos para a mãe e para o bebê, riscos emocionais e físicos que devem ser olhados com muito cuidado e empatia, para que a mãe possa sentir-se acolhida, sinta-se à vontade para reconhecer e comunicar suas emoções e preocupações e amplie as possibilidades de intervenções que por vezes requerem atenção multiprofissional e articulação da rede de apoio afetiva ou social para que o desfecho seja positivo de sentido de transformações que venham ao encontra das demandas e necessidades da mãe, do bebê e dos envolvidos nesse processo para que os dia das mães possa ser marcado não pelas dificuldades surgidas mas pelas superações alcançadas.